sábado, 3 de janeiro de 2009

O CORAÇÃO PELUDO DO MAGO

Fiquem atentos queridos leitores: Rowling sintoniza os Irmãos Grimm para seu terceiro e mais sombrio conto. Em “O Coração Peludo do Mago” há pouco riso e nenhuma busca, apenas uma jornada dentro das sombrias profundezas da alma de um mago. Não há nenhuma evidência de restos de fadas nessa página horrível, em vez disso, nós vemos o desenho de um coração coberto por áspero pêlo e gotas de sangue (de novo, realmente não é fácil desenhar um coração de verdade, com válvulas e tudo o mais, mas Rowling consegue exatamente – pelo rude e tudo mais). Abaixo do texto há uma velha chave com três fendas no topo, deitada sob uma poça de sangue, deixando claro que estamos em frente a um conto diferente dos outros. Não diga que não avisamos…

No começo encontramos um mago atraente, habilidoso e rico que está envergonhado pela tolice de seus amigos apaixonados (Rowling usa aqui a palavra “gambolling” - brincando, fazendo travessura – um exemplo perfeito de como ela nunca diminui seus leitores). Tão certo ele está sobre seu desejo em revelar tal “fraqueza” que o jovem mago usa a “Arte das Trevas” para evitar que ele mesmo se apaixone. Os fãs deveriam reconhecer o começo de um conto de aviso aqui – Rowling explorou muitas lições na precipitação da juventude e nos riscos de tal poder nas mãos de tão jovens durante sua série.

Sem saber que o mago chegou a tais extremos para se proteger, sua família ri de suas tentativas em evitar o amor, acreditando que a garota certa irá mudar seus pensamentos. Mas o mago fica orgulhoso, convencido de sua sabedoria e impressionado com o seu poder em alcançar total indiferença. Mesmo conforme o tempo passa e o mago assiste seus amigos se casarem e terem suas próprias famílias, ele permanece satisfeito com si e com sua decisão, considerando-se sortudo por estar livre das aflições que ele acredita encolher e esvaziar o coração dos outros. Quando os pais do mago morrem, ele não fica em luto, mas ao contrário se sente “abençoado” pelas mortes. Nesse ponto do texto, a letra de Rowling muda um pouco e a tinta na página parece um pouco mais escura. Talvez ela estivesse pressionando mais forte – estaria ela tão assustada e frustrada com seu jovem mago quanto nós estamos? Quase todas as sentenças na página da esquerda praticamente vão até a borda do livro, conforme lemos sobre como o mago se faz confortável na casa de seus pais mortos, transferindo seu “maior tesouro” para a masmorra deles. Na página em frente, quando descobrimos que o mago acredita ser invejado por sua “esplêndida” e perfeita solidão, nós vemos o primeiro gaguejo na escrita de Rowling. É como se ela não pudesse tolerar escrever a palavra “esplêndido” já que claramente não é verdade. O mago está desiludido, ficando mais irritado quando ele ouve dois servos fofocando – um tendo pena dele, o outro rindo por ele não ter uma esposa. Ele decide de uma vez por todas “arrumar uma esposa”, presumidamente a mulher mais bonita, rica e talentosa, para fazê-lo “a inveja de todos”.

Como a sorte o teria, no dia seguinte o mago encontra uma bruxa bela, hábil e rica. Vendo-a como o seu “prêmio”, o mago persegue-a, convencendo aqueles que o conhecem que ele é um homem mudado. Mas a jovem bruxa - que é tanto “fascinada e repelida” por ele - ainda sente a sua distância, mesmo que ela aceite assistir a uma festa no seu castelo. Na festa, entre as riquezas da sua mesa e o jogo de menestréis, o mago corteja a bruxa. Finalmente, ela o confronta, sugerindo que ela acreditaria em suas palavras carinhosas somente se ela achasse que ele “tinha um coração”.

Breve o resumo do conto feito por min !